📍 𝐑𝐞𝐜𝐨𝐫𝐝𝐚𝐫 𝐀𝐠𝐮𝐬𝐭𝐢𝐧𝐚 𝐁𝐞𝐬𝐬𝐚-𝐋𝐮𝐢́𝐬
👉 No próximo dia 15 de outubro, Agustina Bessa-Luís (15 de outubro de 1922 — 3 de junho de 2019) completaria 100 anos. Desde outubro de 2021, no dia 15 de cada mês, damos a conhecer curiosidades e cada uma das obras de Agustina Bessa-Luís com referências diretas a locais da nossa União de Freguesias, fruto da sua ligação às nossas terras, em especial a Bagunte e a Outeiro, locais que fizeram parte da sua vida, sobretudo na fase da adolescência, e que se eternizam agora na sua obra. Acompanhe-nos neste percurso literário que nos conduzirá até ao centenário do seu nascimento, daqui a precisamente um mês, a 15 de outubro de 2022.
𝐂𝐢𝐯𝐢𝐝𝐚𝐝𝐞
👉 Maria Agustina Ferreira Teixeira Bessa (a nossa Agustina Bessa-Luís, nome literário) nasceu em Vila Meã, Amarante, a 15 de Outubro de 1922 e faleceu no Porto em 2019. Entre uma data e outra todos os momentos e pessoas da sua vida alimentaram os seus livros e vivem nas suas histórias.
Escreve o seu marido, Alberto Luís, “ Deve-se escrever sobre aquilo que se conhece. Essa auxiliar que é a memória da infância, e que funciona com todos os escritores (…). Ela aparece de uma maneira ou doutra (…) mas está sempre ligada àquela primeira visão, ao abrir dos olhos para o mundo” (Luís, 2013: 62).
👉 O conto Cividade foi escrito em 1951 e é um texto que entrelaça, com a mestria de Agustina, estas memórias de infância com a narrativa.
Este conto escreve a história de uma vida, Rita, de quem nunca sabemos o apelido. Começa por nos contar o regresso de Rita à Casa de Cavaleiros, no fim da vida. E vai recuando para nos fazer acompanhar o seu percurso.
Como Agustina, Rita passa a infância no Solar do Conde de Cavaleiros, no sopé da Cividade.
Para explicar as origens de Rita e a sua ligação a esta Casa, Agustina conta-nos a história do Solar. Conduz-nos desde a opulência da fidalguia medieval em que descreve as damas na varanda “belas como visões”, as caçadas de lobo e javali, “ a abundancia das “travessas de manjar branco, de crosta açucarada, queimada com um ferro em brasa” até à decadência: “As colunatas da sua varanda medieval pareciam desequilibradas”, transmitindo a “impressão de ruina, de irremediável e pungente solidão”.
Como Agustina, Rita estuda no Colégio do Sagrado Coração de Jesus, na Póvoa do Varzim (onde ensinavam as Irmãs Doroteias), entre “meninas finas”, embora a condição de Rita seja “de favor”, a “educanda pobre”.
Descobrimos que o caminho de Rita “vai ser custoso”. Assim lhe profetiza o pai: “-Tu nem sabes quanto vai ser custoso, e isso é a tua única vantagem. E é o bastante.”
No fim da vida, sem ter sido vencida por ela, Rita regressa à sua Cividade. Recorda que “Muitas vezes, aos domingos, subia com os irmãos ao monte da Cividade (…) em cujo topo os vestígios dos romanos jaziam. (…) Longe, uma linha cinzenta e diluída demarcava o mar. ”
Desvenda-se no fim do conto a alegoria que representa a Cividade na vida de Rita.
Rita “levara o tempo girando em torno dum espaço estreito”, como que “na clausura duma cividade, contemplando o horizonte, imaginando a linha túrgida das vagas, sorvendo no vento, os segredos, as cores e as formas doutros mundos que jamais lograria conhecer. (…) Amara tanto as livres e inesperadas paisagens (…)! Em vão. Era destino permanecer enraizada à sua cividade (…).
No desfecho, sentimos como nosso o sorriso de Rita, que ilumina o seu olhar com “uma luz sereníssima”.
👉E é esta mesma luz e serenidade que os textos de Agustina, pujantes de poesia, força e inusitado transmitem aos seus leitores. Boas leituras!
Bibliografia:
BESSA-LUÍS, Agustina – Cividade. Lisboa: Babel, 2012.
LUÍS, Agustina Bessa, O livro de Agustina Bessa-Luis, Três Sinais Editores, torres Vedras, 2002.
Ramalhete, Ana Maria Godinho de Lacerda. (2015). Nos lugares da infância, o sonho e a liberdade - Estudo comparatista sobre livros para a infância e juventude de Agustina Bessa-Luís e Luísa Dacosta [Dissertação de Mestrado em Estudos Comparados – Literatura e Outras Artes, Universidade Aberta]. https://repositorioaberto.uab.pt/bitstream/10400.2/4527/1/TMECLOA_AnaRamalhete.pdf
Texto: Cidália Balazeiro
Imagem Cividade: Marisa Ferreira